Beautiful Dangerous

Uma batida tentadora surgindo como o hino de todas as más intenções que emanavam daquele lugar."I don't know who you are now. Mystery drenches my brain...". O jogo de luzes dava um efeito sobre o corpo perfeito da dançarina que dominava o palco e começava suas acrobacias no pole dance. "I wanna jump deep into your cloud 'Cuz something tells me it's gonna rain". Girava como se seu corpo fosse leve como uma pena. Os braços e as coxas torneados sem parecer masculina demais, mantendo toda sua feminilidade e, principalmente, a sensualidade que o seu emprego exigia.

O lugar estava começando a encher como era esperado para uma sexta-feira. Os clientes brotavam e tinham os mais variados estilos. Tinham os que tinham acabado de sair do trabalho ainda de terno e gravata; os "pais de família"; os menos afortunados; os mais "experientes". Enfim,d e toda forma, ali, todos eles eram iguais e buscavam a mesma coisa: prazer. Fosse no palco central vendo as curvas perfeitas da dançarina provando que podia ir contra a física no pole dance, "I hear the thunder thumping and my heart starts jumping and thats when I spin on the pole. Now my head's exploding and your gun is loaded so I'm guessing I'm on a roll", ou nos sofás que ficavam espalhados pelo primeiro andar e no mezanino, onde poderia relaxar bem acompanhados e observar os queijos "privados".

"Well it's a fine time looking for a wine time man and you said "baby, are you ready to play?" Well come right on this rollercoaster, 'cuz it ain't over, it ain't over."

Mesmo com tantas opções, não havia melhor opção para observar todo aquele espetáculo do que no bar. Era ali onde toda a magia começava ou toda a magia partia. Em menos de uma semana, ela tinha observado e poderia propor uma tese sobre o comportamento humano. No fim, são todos uns animais querendo agir pelos próprios instintos e arriscar em todos os pecados. Afinal, todos os pecados estavam reunidos num só lugar mesmo. E todas as noites a casa estava sempre cheia.

Não fazia nem uma semana que ela estava trabalhando ali, no bar do local. Apesar de terem tantas tentações para todos os gostos, carne fresca sempre seria a melhor atração de todas. O prazer que Jillian deveria dar era de fornecer os drinks mais saborosos que conseguisse fazer, mas óbvio que o que mais recebia eram cantadas, pedidos, declarações. Ela aceitava todos, sempre muito receptiva, mas logo largava o que quer que fosse na lixeira atrás do balcão. "Rebel of this party, I'm in love with all your danger, danger. We can live forever, I can be your pagan angel, angel. Beautiful Dangerous".

Interessante era chegar à conclusão de que as mulheres que trabalhavam ali, estavam unidas pelo mesmo desejo, mas usavam as armas que achassem mais apropriadas. Todas queriam o dinheiro e, verdade fosse dita, as gorjetas eram boas, muito boas.Umas preferiam girar no pole, outras no lapdance, mas Jillian preferia manter seu corpo intacto e ser apenas o combustível para os homens agissem como tal. Essa era a melhor forma de sentir o sabor do dinheiro - "You like it smooth like brandy. Savor the flavor with delight...'Cuz sometimes it's more fun to fight".

Além dessa vantagem economica, o local era bom para que seus contatos chegassem até ela. Mas seus contatos a conheciam apenas por um nome, talvez o único nome verdadeiro que ela tivesse: Paperdoll. E quando eles vinham, era sempre por um só motivo: Quem seria o próximo? "I can be your pagan angel, angel.Beautiful Dangerous"

Estava no balcão.

Tantas pessoas. Todos os dias, todas as noites, rostos diferentes - uma dose de uísque, um metropolitan, um martini. 'Manda praquela garota'. 'Manda praquele cara'. 'A que horas você sai, belezinha?'...

As pessoas passavam e iam embora, e era quase irônico o modo como aquilo se relacionava a quem Jillian era no fundo, na verdade. O modo como as pessoas eram... momentos. E nada mais.

Jillian havia acabado de entregar uma cerveja para um rapaz, e o cara lhe deu uma nota. Na nota, havia alguma coisa escrita, em grandes letras escuras, com caneta marcador. Era difícil ler, entretanto, no ambiente da boate.

Quando ela ergueu os olhos novamente, ele não estava mais lá.

A performance da dançarina tinha terminado junto com a musica e logo vieram os aplausos. Jillian ergueu o olhar uma vez e esboçou um sorriso no canto dos lábios. Olhou para o rapaz que tinha pedido uma cerveja e prontamente atendeu o pedido dele.

E então veio a nota com o bilhete. Olhou para a cédula, mas estava difícil de ler.

- Hey, Joanne! Segura aí que eu já volto.

E saiu discretamente, misturando-se na multidão para chegar até o banheiro. O banheiro feminino estava vazio, como era de se esperar. Podia ser apenas uma cantada, mas alguém tinha maculado o dinheiro! Precisava conferir o que era. Certificou-se de ver se a janela do banheiro estava aberta ou se tinha espaço para ela pular, só se fosse necessário. Não gostava de se imaginar presa, sem uma rota alternativa de fuga. Pegou a nota de novo e passou os olhos para ele.

Ao vê-la se afastar daquela forma, a tal Joanne apenas sorriu um "Okay, vê se não demora!", mas houve um certo burburinho indistinto, uma pequena agitação pelo balcão - provavelmente apenas clientes nada felizes em ficarem com uma bartender a menos.

No banheiro, os gemidos e o "clanc clanc clanc" das divisórias de madeira de má qualidade balançando denunciavam que algum casal estava fazendo cosias impróprias em uma das cabines.. Mas, bom, até aí, nada de novo. Era possível passar pela janela, sim: se você fosse uma criança de cinco anos, ou extremamente magra.

A nota dizia o seguinte: Eles 'tão vindo. Dá o fora daqui!