Yu-yu Hak..!! Lia!

O crepúsculo se aproximava.

Yulia estava sentada de frente para sua janela branca dentor de seu apartamento branco. As paredes brancas e os móveis, louças e cortinas brancas davam a impressão de um hospital. Até mesmo a blusa que ela usava era branca. Suas bochechas rosadas e olhos estranhos: um verde e outro azulado; davam os tons coloridos da cena. Ela tinha a cabeça apoiada em uma das mãos e o olhar pesado, meio triste e sonolento. No parapeito da janela, uma xícara branca e trabalhada continha um líquido cheiroso. Tinha cheiro de alguma erva.

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A menina bonita sequer sorria enquanto olhava para as ruas movimentadas da pequena cidade. Todos tão apressados, outros alegres, outros briguentos e outros amando. E ela lá, fechada em seu mundo. Parecia que a cidade era outra realidade. Uma realidade que fora há muito tempo, roubada.

Yulia suspirou e tirou uma mecha de cabelo do rosto. Levantou-se e caminhou até a parede esquerda da sala. Um belo desenho de um cavalo, correndo ao vento, estava estampado da parede. Os detalhes, as cores, tudo era de uma perfeição sem limites. Quem visse, acharia que o cavalo estava, realmente, se movimentando. Yulia sentou no chão e o olhou. Pegou o giz de cera e continuou.

Cantava uma canção de ninar bem baixinho, com sua voz encantadora. Balançava para frente e para trás, hipnotizada. Desenhava para esquecer, para parar de pensar. Os outros bebiam, por que ela não poderia desenhar?

Cantou mais alto, a fim de espantar os pensamentos e lembranças. Tentava se convencer que tudo não passou de um sonho.

O relógio da sala bateu as dezenove badaladas. Sete horas da noite. A noite, pelo que o noticiário havia dito, contaria com algumas chuvas. A queda de temperatura já começava a surgir, quando Yulia ouviu alguém bater na porta de seu apartamento. Ao olhar pelo olho mágico, notaria que, estranhamente, não havia ninguém alí.

Caso prestasse atenção, teria visto um envelope ser passado por baixo da porta. Dentro dele, um celular fininho.

Yulia primeiro não deu muita atenção a porta. Na segunda batida, a mulher levantou se foi ver no olho mágico. Quem estava importunando ela aquela hora? Não havia combinado nada com William e...

Nada.

Yulia piscou os olhos rapidamente e olhou em volta. Será que era mais alguma piada de mau gosto DELE?

Não, não. Isso já havia passado! Já havia terminado e...Viu o envelope e abaixou-se para pegar. Olhou-o primeiro e quando viu que havia algo dentro dele, abriu lentamente, com cuidado.

-Hun?

Quase deixou o celular cair no chão. O ligou e ficou olhando. Quem raios ia dar um celular a uma louca?

E o telefone vibrou, pura e simplesmente, sua telinha iluminando-se: You have 1(one) new message.

Ao abrir o celular e conferir a mensagem, Yulia, talvez - se ainda fosse capaz daqueles pequenos detalhes de emoções - sentiria um calafrio a percorrer-lhe a espinha, subindo-lhe pela coluna, arrepiando os cabelos de sua nuca. "Olhe pela janela. Eles estão vindo. Saia já daí." - a mensagem avisava.

Caso fosse olhar pela janela, ela veria uma equipe de cerca de sete pessoas, em uniformes negros da SWAT, movendo-se para fora de um camburão, entrando no prédio.

A luz que chegou de repente do celular fez a mulher franzir as sobrancelhas e balançar a cabeça em dúvida. Que raios de coisa era aquela? Por isso detestava celulares! Não faziam sentido! Sua curiosidade, porém, era maior. Ela leu lentamente e as coisas agora realmente não faziam mais o mínimo sentido.

Porém, algo estava errado, ela podia sentir no ambiente, não é, coração?

"Hehehehe..."

A risada ecoava na mente de Yulia, junto com a imagem do corvo de olhos brilhantes como fogo. Ela foi até a janela e arregalou seus olhos.

-Não não não não não!

Será que descobriram o que ela fez com seus amigos e família? Mas não foi por querer!Não foi! Tinha que provar, ams não queria encontrar figuras negras! Não ser trancada!

Yulia olhou ao redor e correu para o quarto, onde havia uma escada de incêndio para a rua do lado. O corvo começava a gritar em sua mente e as risadas aumentavam.

Um sorriso começou a se formar no rosto oco.

Desceu com rapidez a escada. Não seria pega de novo!

E Yulia correu e correu, os pés guiando-a mais rápido do que ela se lemmbrava de ser capaz de correr, com mais destreza do que se lembrava de ter. Seu coração batia, acelerado, impulsionado pelo instinto de sobrevivência, pelo famoso instinto de fight or flight que atingia as pessoas naquelas situações.


Quando desceu os lances da escada de incêndio e lançou-se pela rua, acabou por esbarrar em um grupo pequeno de pessoas - mas por que aquilo deveria importar, afinal de contas? O celular vibrou de novo, apitando entre seus dedos, implorando para ser lido.

Uma nova mensagem.

Vire a direita na terceira esquina a sua frente e depois na primeira a esquerda.

Ela pode ouvir quando derrubaram a porta do seu apartamento. Quando olharam pela janela. - Ela tá indo pra lá! - um deles gritou, apontando. Yulia viu os pontinhos vermelhos se armas sendo apontadas para ela refletidos no chão..

Seus pés pareciam nem encostar no chão enquanto corria. Os olhos da mulher, antes cobertos por um aspecto calmo, quase assustado, agora tinha o ar de determinação forte, de um sobrevivente. Porém, dentro daqueles olhos, dentro daquela determinação, estava uma sombra bizarra da falta de qualquer freio. Yulia faria o que quer que fosse necessário para sobreviver. Não iria ir para outro terror, outro pesadelo.

As risadas aumentavam na cabeça de Yulia. O sorriso se formava involuntariamente no rosto. Uma risadinha podia ser ouvida. A atmosfera ao redor de Yulia começava a ficar estranhamente pesada. Algo estava muito errado. A realidade, os pensamentos, nada mais tinha lógica, e era difícil manter-se concentrado, manter-se são.

Pegou o celular novamente. O som dele a irritava. Leu a mensagem no meio de sua pressa na fuga.

Ouviu a voz do agente e o encarou com o olhar forte, como de um animal selvagem. Aquilo era pertubador. Aquele sorriso distorcido, o som baixo das risadas, o som de uma voz torcida.

Correu novamente, seguindo as instruções do celular.

(Rod, não sei se vc leu minha MP, mas queria tentar já usar o pacto da Lua.)