(CONCLUÍDO) Batismo de Fogo

O céu escurecia e, como se houvessem combinado, os soldados passavam a se silenciar. Brincavam menos, falavam menos, até chegarem ao ponto do mais completo silêncio.

Quem quer que andasse por entre a tripulação via que os homens agora se preparavam. Afiavam espadas, poliam armaduras, desamassavam escudos. Todo o equipamento era leve, mínimo. Afinal, já havia toda a gravidade agindo contra eles, não queriam diminuir as chances de ficar no alto.

O capitão não pôde ser visto durante toda a viagem. Quando ele surgiu de sua cabine, a noite já havia caído. Trajava as vestes costumeiras, mas, desta vez, possuia uma espada de lâmina larga em sua cintura. Não usava armaduras, com exceção de joelheiras de metal, que ficavam logo acima das botas das altas botas que calçava.

Pediu que todos os Escolhidos fossem chamados. Assim que foram reunidos, cada um recebeu duas pedras de tom azulado.

- Quando estiverem próximos do chão, utilizem estas pedras. Elas irão amortecer a queda. São duas. Para o caso da primeira falhar. Eles possuem observadores, então, apenas usem quando muito próximos do chão. E você... - apontou para Charlie - Pode ficar aqui ou descer com eles. - entregou para ela uma fruta avermelhada, de aspecto pegajoso - um presente de Devans. Diz ele que isso irá diminuir a sua dor.

O capitão aproximou-se da proa do navio. Seus homens, pouco a pouco, se agregavam nas proximidades.

- Folha de Outono lidera a defesa em Whiteribs. De acordo com o que ele relatou, aqueles filhos da puta tomaram o porto e expulsaram as forças de Haslanti. Para evitar uma perda total, foi feita uma barricada na entrada área portuária. Os homens de Fal Grey não saem de lá, mas também não entram. Enquanto isso, tem gente morrendo pelas ruas da cidade, além dos muros.

Parou de falar e deixou, mais uma vez, que apenas o vento estivesse entre eles. O navio começava a perder altura.

- A Zona Portuária é divida em duas. Primeiro Quadrante e Segundo Quadrante. No primeiro quadrante ficam os armazéns privativos e o centro administrativo. No segundo, há o armazém coletivo e as baías de reparos. Toda mercadoria que não foi verificada, fica no segundo quadrante. Uma parede separa os dois lados e o único jeito de atravessar é por cima do muro ou por uma construção.

- Capitão. Chegaremos em cinco minutos.

O homem fez um sinal de positivo com a cabeça. Sua mão repousou, calmamente, sobre a empunhadura da espada. A altura diminuia mais e mais. Já era possível ver alguns sinais de fumaças das casas em chamas, bem como os gritos distantes de combate.

- Nós não podemos nos aproximar demais. De acordo com relatos, há ao menos três Dragon-Bloodeds. Se qualquer deles nos atacar em cheio, corremos o risco de perder a embarcação. Deixaremos vocês no primeiro quadrante e então partiremos para essa tal Stormgale. Quando tudo isso terminar... peçam para Folha de Outono uma carona.

- Capitão. Chegamos em Whiteribs.

Mais uma vez ele meneou positivamente. Olhou para o Legado. Um olhar rígido, criterioso. Não conhecia aquelas pessoas, mas sabiam que eram parte amaldiçoados, parte abençoados. Havia visto o poder de Alexander e tinha a certeza que aquele poder era carregado por demônios. Contudo, ainda assim, a única chance de equilibrar os lados nessa guerra, seria depender daqueles desconhecidos, cuja única coisa que os motivava a lutar era... o destino. Um estranho destino que os puxava e os jogava em direção a um conflito maior que eles.

- Senhores... meus homens reforçarão a defesa da cidade além dos muros portuários. Quando tudo isso terminar, eu estarei longe e espero ter boas notícias. Eu não vivi e lutei por essa maldita liga, apenas para vê-la tomada por um filho da puta brilhante...

- Capitão Harek! Próximos do ponto de desembarque!!

A voz era urgente. Os sons do combate tornavam-se maiores, mais próximos. Lá embaixo, soldados lutavam e morriam em prol do direito de manter-se de pé, de sobreviver, viver e morrer sob o julgo de quem quer escolhessem.


- Vocês não pediram por esse destino. Mas isso é tudo o que vocês tem agora. Boa sorte.

E então, sem esperar por qualquer palavra de qualquer um, ele dirigiu-se até o próximo ao timão, que ficava em um ponto mais alto, e lá permaneceu. Devans, o Taumaturgo, apontaria para a parte traseira, onde estavam livre para o salto.

Niume ouviu todas as explicações do capitão, atenta aos detalhes sobre o local para não ser pega desprevenida quando chegassem. Não queria mais outra discussão sobre estratégias e se houvessem, tamparia os ouvidos a elas, ao menos dessa vez. Tinham que agir e rápido. O lado bom, é que ao menos por enquanto, não teriam que se preocupar com Fal Grey, apenas com os Dragon-Bloodeds, embora ela não conhecesse a dimensão dos poderes que estes podiam alcançar.

-Faremos o que tiver de ser feito.

Disse seria, enquanto pegava nas mãos, as pedras oferecidas a eles para amenizar a queda. Ela as olhou e assentiu, a altura nunca tinha sido uma visão agradável, mas era hora torna-la imensamente amigável. Niume caminhou até a popa do barco atrás de Alfadur e os olhos espiaram levemente para baixo. Não preocupou-se com a guerra que já acontecia, apenas respirou fundo enquanto ouvia as palavras do homem e saltou atrás dele mais rápido do que os pensamentos poderiam acompanhar ou impedir.

Ao se aproximar do chão, Niume ativou uma das pedras para que isso amortecesse sua queda e assim que os pés se firmaram no chão, o sol brilhou em sua testa. Ela ergueu as mãos para frente e enquanto o fazia, o enorme arco dourado formava-se no ar, encaixando-se aos dedos finos e precisos da mulher (Ativa Immaculate Golden Bow). Ela não sairia disparando flechas a torto e a direito, tinha que usar sua essência e não esgota-la de forma irracional. Os olhos ágeis de caçadora procuraram os alvos e com ágil firmeza, os dedos puxaram a fina corda dourada desenhando entre eles a primeira flecha. Com a mesma rapidez com a qual puxou a flecha, ela a disparou na direção do primeiro alvo. Depois da primeira, uma segunda e uma terceira. Uma depois da outra. Seu alvo eram os postos de vigilância, todos os sete. (Combo: Essence Arrow / Immaculate Golden Bow / Phantom Arrow Technique).

Uhm... Aquilo com toda a certeza, não tinha funcionado como ela havia imaginado. O arco tinha funcionado tão bem da primeira vez, que ela nem mesmo havia se atentado ao detalhe de que um arco de luz e uma flecha dourada cortando o céu noturno chamariam toda a atenção. Também não tinha com toda a certeza, esperado que apenas uma das flechas que tinha lançado, acertasse uma porcaria de vigia. A ideia de simplesmente explodir aquele lugar um tanto mais atrativa do que matar soldados e deixar paredes intactas. Mas graças aos Deuses, era por isso que ela não era a responsável pela estratégia de guerra.

Niume olhou para os lados, podia ouvir os gritos e ve-los se aproximando. Ao que parecia, tinham sido os únicos com coragem o bastante para se arriscar a pular do barco e estavam sozinhos. Teriam de se virar com o que o tinham e se brilho era o que era tinha, então que fosse. A morena olhou ao Alfadur, que ainda parecia esperar por ela ali, com os braços esticados para ergue-la junto dele. Sem soltar o arco, ela correu na direção dele e parou a frente do homem, com as costas viradas na direção dele.

-Vamos cobrir o mandão do alto... posso acerta-los de cima.

Concordou ela com a ideia, e esperou que Alfadur a erguesse do chão para o alto com suas asas recém ganhas. Mas não o esperou parada, uma flecha esticou-se entre os dedos e voou rápida na direção do grupo que avançava contra eles, para abater o primeiro que viesse a frente, ela só esperava que Alfadur fosse bem rápido em alçar voo.