Three Shades of Grey (Natalie)

Natalie viu a cabeça de Adan transformasse em um amontoado de carne. Não conseguia acreditar na quantidade de pessoas que vira morrer em tão pouco tempo. Mortes estas causadas por um único maníaco que desencadeou, sozinho, uma série de eventos que levaram até todas aquelas realizações. Até todas aquelas ausências.

Correu. Disparou em direção a saída do apartamento deixando mortos para trás. Bateu a porta à suas costas e foi em direção ao elevador. Apertou os botões. Apertou. Apertou novamente. Não chegava.

Olhou para trás e seus olhos viram quando o maníaco cujo face era a de outra pessoa, apareceu. Com uma expressão de fúria, um olhar animalesco, bestial.

- Eu vou te matar...

Ele grunhiu e disparou na direção de Natalie. Tinha um braço em sua mão, o braço de Adan, que, sadicamente, ele havia arrancado e agora carregava consigo como uma arma. Atacou a pequena mulher que, de um jeito desesperado, assustado, conseguiu escapar. Foi na direção das escadas e passou a correr, degrau, por degrau. A respiração ficava forte, achava que seu peito fosse explodir. Achava que fosse morrer.

Correu escadas abaixo, enquanto que o caçador vinha atrás dela, incansável. Ele não se detinha.

Um, dois, três andares. Quis gritar, mas foi incapaz de fazê-lo naquele momento. Quis morrer, mas seu cérebro não conseguia pensar nisto como uma alternativa naquele segundo.

As mãos trêmulas abriram a porta do carro.

Entrou.

Tateou o bolso, achou a chave e a encaixou.

Respirava. Não, não respirava.

Ligou o motor, ligou para Godhand.

Engatou a marcha.

O telefone chamava.

Só percebeu que o Caçador estava parado a frente do carro, com o braço de Adan em sua mão, encarando-a como um cão selvagem que encara sua presa.

- O que diabos você quer??

Ouvia latidos do outro lado da linha. Godhand arfava, como se estivesse no meio de alguma atividade física.

O Caçador começou a correr na direção do carro.

“Mantenha as mãos no volante. Mantenha as porras das mãos no volante!”

Aquela merda de voz não parava de gritar na minha cabeça. Por um momento achei que fosse a voz de Rouge em outro achei que era a minha própria voz, e no segundo seguinte, ‘tava pouco me fodendo de quem era aquela voz.

Mas tudo ficou quieto quando ouvi o ronco do motor, as cenas que vi lá em cima passavam em flashs desconexos na minha cabeça, como um filme do Tarantino. Eu comecei a rir de maneira histérica. Tentei segurar ro celular, mas ‘tava difícil pensar em duas coisas ao mesmo tempo.

– Mas que merda! – Gritei, nem sei se aquele grandalhão tatuado chegou a ouvir, joguei o celular no banco do carona, engatei a marcha e arranquei. Por um segundo, um segundo breve, eu vi o reflexo da Ingram no banco de trás. Se eu tivesse força... Droga!

Quanto voltei o rosto para frente, ele ‘tava lá, parado. Desviei como pude, manobrando o carro do jeito que dava, pensei em jogar o carro contra ele, mas sei que isso ia ser meio inútil. Só precisava tirar o carro da garagem, só preciso tirar a porra do carro da merda da garagem!

E nem fodendo que ia esperar o portão abrir, acelerei até onde consegui, ia passar por cima de tudo, até dele, se fosse preciso.

Natalie acelerou o carro, desejando sair daquela porra de lugar o mais rápido possível. O Caçador permaneceu ali, parado, e quando a garota avançou contra ele, o "monstro" pareceu esperarar por isso. Com o braço de Adan em sua mão, ele segurou-o com força e avançou na direção do veículo e após um curto "sprint" arremessou-o na direção de Natalie que, no exato momento, desviou o carro, deixando para trás um estrondo seguido do esfacelamento do membro de seu antigo companheiro.

O Caçador era, definitivamente, forte. Mais forte do que qualquer outro ser que ela já havia visto antes.

Olhou no retrovisor após atravessar o portão e o viu ali, parado, olhando na direção de sua presa. Natalie teve a impressão de que o viu sorrindo. Teve a impressão, ou melhor, teve a certeza, de que ele voltaria.

Acelerou, pegando a avenida principal o mais rápido possível e só então deu-se conta do estrago na parte frontal do carro.

O telefone tocou:

- Hey! Está com problemas?

Era aquele japonês conhecido como Wheels.

- Acho que sim, uh? As coisas estão feias por aqui. Godhand disse para eu ajudá-la.

Natalie passou no semáforo vermelho. Ah, que se foda.

- Eu estou na Damen Avenue. E você?

Ela estava próxima. Cerca de dez minutos.

Inferno de dia.

Bom, pelo menos uma coisa Natalie sabia fazer; dirigir. E pensava que em muitas vezes seu rabo tinha sido salvo exatamente por conseguir dirigir um pouco melhor do que a maioria. ‘Ta certo que nem sempre isso era o suficiente, mas pelo visto, naquele dia tinha sido o bastante.

A rua para ela era um breu sem direção. Resmungava baixinho, precisava de um cigarro, Deus! Como precisava da porra de um cigarro. Desviou os olhos por um segundo da rua, e tirou uma das mãos do volante, abriu o porta luvas, seu irmão não fumava, maldito bastardo!

O celular tocou. Seus olhos cinza firmaram-se na tela, não conhecia aquele número. Demorou um minuto até estender a mão para ele e apanhá-lo e atendê-lo.

Não disse nada.

Nem viu o sinal vermelho, na verdade viu, mas não prestava tanta atenção quando deveria.

– Ajudar? – Cuspiu as palavras seguida de uma risadinha. O pé se esforçava pra manter o acelerador pressionado, esqueceu onde ficava o freio naquela noite.

– Pelo amor de Deus, diga que você tem um cigarro. Certo, não era a melhor pergunta a se fazer. Não teve coragem de desligar o celular, não teve coragem de deixar aquela voz inútil sumir, e seu inconsciente, ou talvez até mesmo o consciente a levava para Damen Avenue.